terça-feira, 3 de outubro de 2006

O Gato e o Outono

Caiem as folhas, e lembra-se dos primeiros tempos. E do início, que sempre se pareceu com o fim. O ano não começava a 1 de Janeiro. Começava com o cair da primeira folha laranja, lá do cimo das árvores maiores, mais velhas, gastas pelo tempo. Era invisível, pelo cair da tarde, invisível, com a avançar da noite (até invisível com os primeiros raios de sol), e fazia o caminho mais longo e mais triste. Mas mais intenso. Às vezes as coisas profundas não têm que ter uma explicação clara. Não têm que ter uma razão filosófica. Não têm que se repensadas. Simplesmente são aquilo que são. Profundas. Belas. Tristes. Incompreensíveis.

Caminhava sozinha, sempre sozinha, acompanhada pelos milhares de pensamentos que cresciam, bem longe daquilo que era e daquilo que tinha de ser. Sempre sozinha – com muitas vozes, muitos ditos, muitas sugestões – mas sempre sozinha.

Porque estar sozinho no mundo não é estar isolado, ou longe da companhia humana. Estar sozinho é um estado de espírito, uma parte da personalidade, um Outono auto-imposto. E às vezes, muitos nem se apercebem de como estão sozinhos. Até olhar bem para o seu Outono. Até ao recomeço das coisas.


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