segunda-feira, 12 de março de 2007

As criancinhas de hoje...

Visito hoje meu nobre e-mail, que tem neste momento 192 (!) mensagens não lidas, e deparo-me com esta:
Retirado da revista VISÃO
Criancinhas
A criancinha quer Playstation. A gente dá.
A criancinha quer estrangular o gato. A gente deixa. (Esta arrepiou-me particularmente...)
A criancinha berra porque não quer comer a sopa. A gente elimina-a daementa e acaba tudo em festim de chocolate.(...)
A criancinha quer camisola adidas e ténis nike. A gente dá porque a criancinha tem tanto direito como os colegas da escola e é perigoso ser diferente.(...)
A criancinha desata num berreiro no restaurante. A gente faz de conta e o berreiro continua.
Entretanto, a criancinha cresce. Faz-se projecto de homem ou mulher. Desperta.
É então que a criancinha, já mais crescida, começa a pedir mesada, semanada, diária. E gasta metade do orçamento familiar em saídas, roupa da moda, jantares e bares. A criancinha já estuda. Às vezes passa de ano, outras nem por isso. Mas não se pode pressioná-la porque ela já tem uma vida stressante, de convívio em convívio e de noitada em noitada. A criancinha cresce a ver Morangos com Açúcar, cheia de pinta e tal, e torna-se mais exigente com os papás. Agora, já não lhe basta que eles estejam por perto. Convém que se comecem a chegar à frente na mota, no popó e numas férias à maneira. A criancinha, entregue aos seus desejos e sem referências, inicia o processo de independência meramente informal. A rebeldia é de trazer por casa. Responde torto aos papás, põe a avó em sentido, suja e não lava, come e não limpa, desarruma e não arruma, as tarefas domésticas são «uma seca». Um dia, na escola, o professor dá-lhe um berro, tenta em cinco minutos pôr nos eixos a criancinha que os papás abandonaram à sua sorte, mimo e umbiguismo. A criancinha, já crescidinha, fica traumatizada. Sente-se vítima de violência verbal e etc e tal. Em casa, faz queixinhas, lamenta-se, chora. Os papás, arrepiados com a violência sobre as criancinhas de que a televisão fala e na dúvida entre a conta de um eventual psiquiatra e o derreter do ordenado em folias de hipermercado, correm para a escola e espetam duas bofetadas bem dadas no professor «que não tem nada que se armar em paizinho, pois quem sabe do meu filho sou eu».
Concordo com tudo isto. é a dura realidade - falo contra mim, porque tenho amigos que estão precisamente a passar por isto com os filhos, gosto dos miudos, mas reconheço que o distanciamento e toneladas de mimo dos pais constitui um retrato fiel do que foi dito. Como também tenho amigos professores, sei bem o que é passar o dia a ensinar crianças que insultam, gritam e desaprendem , apesar dos esforços de professores e auxiliares, que também levam por tabela. Destaquei a parte mais chocante de tudo isto, é que é a pura verdade - a tipica frase "não têm nada que se armar em paizinhos, pois quem sabe do meu filho sou eu." Uma vez levei esta resposta, depois de ter agarrado, em pânico, uma criancinha completamente desconhecida para mim , mas que trepava com todo o vigor um gradeamento de uma barragem, perante o olhar perfeitamente passivo do papá.
Agora, atentem na segunda parte do e-mail.
A criancinha cresce. Cresce e cresce. Aos 30 anos, ainda será criancinha, continuará a viver na casa dos papás, a levar a gorda fatia do salário deles. Provavelmente, não terá um emprego. «Mas ao menos não anda para aí a fazer porcarias».(...)Um dia destes, vão ser os paizinhos a ir parar ao hospital com um pontapé e um murro das criancinhas no olho esquerdo. E então teremos muitos congressos e debates para nos entretermos.
Ora,também é a verdade, reconheço. Também acho que há uma falta de autoridade tremenda - dá-se um estalo no miúdo, é digno de vir na TVI. Enquanto que algures no país existem 10 ou 20 crianças a serem diariamente espancadas por autênticos psicopatas, com o conhecimento de 5 assistentes sociais, e ninguém faz rigorosamente nada - mas sobre a verdadeira aberração do que é a assistência (qual? qual??) social portuguesa falarei mais tarde.
Agora, deixem-me continuar uma alternativa desta segunda parte...
A criancinha cresce. Cresce e cresce. Aos 30 anos, ainda será criancinha, continuará a viver na casa dos papás, porque o salário que ganha (está a recibos verdes) não dá para pagar casa, luz, água, carro e combustivel, alimentação e vestuário. Ao invés disso tem de descontar mensalmente, só para o Estado, um quarto do que ganha, ou mais - mas não tem direito a segurança social. Tem um terreno herdado dos avós, mas não pode construir casa porque uns senhores que estão sentados à secretário decidiram que aquele terreno baldio sem uma unica restea de vinha era, afinal, reserva ecológica. Dois anos depois deixam construir um outlet no estuário do Tejo, e aprovam um projecto para construir um mega-aeroporto em plena serra.
A criancinha quer ir de férias, mas como está em regime de trabalhador independente, não pode porque não recebe qualquer subsidio. Aliás, não pode adoecer, porque sendo trabalhador independente, não tem direito a subsidio de doença.
A criancinha candidata-se aos poucos lugares que abrem para o quadro na função pública, como professor, mas fica sempre em 2º lugar, porque os seus papás não moram na Quinta da Marinha
nem foram ministros.
A criancinha deseja arduamente voltar a ser criancinha. Pelo menos enquanto via o Dartacão estava feliz - agora tem de passar 7 horas num centro de saúde para conseguir marcar uma consulta. Note-se, "marcar", não "ter" uma consulta...
Também eu acho que os professores são os maiores lesados com isto tudo. Os miudos ficam à deriva, enterrados em brinquedos e mesadas, e acham que podem insultar tudo e todos. E um professor nem sequer pode separar uma briga entre dois alunos - é contra as regras.
Mas da maneira como isto está, são poucos os que deixam de ser criancinhas. Até mesmo os professores, que têm de pedir auxilio aos pais quando ficam 5 ou 6 meses numa lista de espera, apesar de já darem aulas à 10 anos.
Pensem nisto...

8 comentários:

Mel disse...

nem mais...

Rafeiro Perfumado disse...

Já recebi esse mail, assustadoramente profético, para não dizer actual. Ouvi no outro dia que o problema muitas vezes começa quando pela primeira vez a criança dá um pontapé no progenitor e este se ri, dizendo que não deve fazer aquilo, em vez de o repreender a sério (diferente de espancar violentamente).

Casemiro dos Plásticos disse...

tens toda a razão neste, parabéns!

India disse...

Bxana, nem sei o que te diga... é assustador, revoltante, real e ao mesmo tempo ridículo! No que toca ao meu filhote, ele está e permanecerá na linha, sem dramas, e de forma NORMAL! Sou prof e sei o quanto muitos miudos precisavam de ter pais lúcidos e atentos! É ridiculo a forma como os pais deixam os miudos pequenos crescerem tortos, sem a mínima orientação e disciplina! É preciso tanta disciplina - física, moral, interior, mental - para crescer!
OK, eu páro! Ficava aqui a discorrer sobre o que entendo por educar até amanhã!
Fica bem!

L u i s P e s t a n a disse...

Sim Rafeiro, como uma profecia realmente

Anónimo disse...

Bxana,qualquer facto que tenha algo a haver com os mitos do meu blog,poderá não ser coincidência.
Mas não tem nada a vêr com o Hannibal. tenho novidades no blog.

Professor disse...

Pode crer querida Bxana que a infância e adolescência são invenções da civilização contemporânea. Por nossa culpa cada vez são mais longas. Quem me dera no tempo em que o que eu mais desejava era sair de casa dos meus pais. Quando arranjei emprego aos 17 anos uma das primeiras coisas que fiz foi uma sociedade com mais dois amigos para alugarmos um apartamento onde pudéssemos receber as nossas amiguinhas. Mas parece que agora até os pais se sentem na obrigação de ou deixarem os pequenos aviarem-se lá no quartinho deles ou fingirem não saber de nada e esforçarem-se por passar os fins-de-semana sempre fora.
Bjs.

peace_love disse...

realmente já faltou mais para ser assim..

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