Às vezes o nosso discurso parece tão claro, que quando o passamos para o papel esquecemos a forma como dissemos “isto” ou “aquilo”… Tive recentemente a oportunidade de mandar o meu bitaite sobre o choque tecnológico do nosso PM, nomeadamente sobre a acção de distribuir pc’s por entre os pupilos do 10º ano, em nome dos padrões de desenvolvimento em Portugal. De facto, a nível europeu, as estatísticas indicam que, enquanto até há bem pouco tempo estávamos atrás de quase todos os países no que diz respeito ao acesso a novas tecnologias, bem como acesso à Internet, estamos hoje na berlinda. No entanto, e se bem que acho porreira a ideia de ajudar os alunos a disporem dos meios que nós, há uns anos, não tínhamos, discordo completamente da forma como isto é feito.
Este contacto com a tecnologia é incentivado de forma a auxiliar e preparar os estudantes para o futuro, dotando-os de instrumentos, técnicas e conhecimentos necessários para a pesquisa, estudo e trabalho. E aqui é que a porca torce o rabo, porque se há coisa que no nosso país não se investe é em:
a) Formação contínua;
b) Apoio ao estudo.
E não entram aqui para as minhas estatísticas os laboratórios de estudo e formação espalhados por Lisboa, Porto ou Faro; estou a falar das escolas a nível nacional, seja uma C+S em Setúbal, ou uma C+S em Chaves. Para que me serve espetar um Toshiba nas mãos de um jovem de 15 anos, se nunca lhe demonstraram técnicas de pesquisa adequadas a uma biblioteca? Sim, como pode alguém saber como procurar algo nas bibliotecas virtuais (já nem digo nos pântanos dos motores de busca) se a biblioteca escolar – caso exista – está aberta das 14:00 às 17:00, hora em que um ou dois professores com horário incompleto estão disponíveis, sem formadores adequados para prestar auxílio para o estudo e pesquisa?
E a formação contínua dos funcionários? O que dizer de professores que, em 2007, não sabem ainda usar um e-mail? E julgam que são poucos? Os alunos esforçam-se ou não para estudar, é um facto, mas eles não nascem já com mecanismos de estudo e de lógica. Precisam de ser ensinados. Por quem? Professores que não sabem escrever um e-mail? Que não sabem o que é o google? Claro que grande parte dos miúdos/graúdos de hoje copiam trabalhos da Internet: os seus professores não sabem como localizar as “trafulhices”. E quantos professores se disponibilizaram a levar os petizes, com 10/11 anos, a um centro de documentação/sala de estudo/sala de Internet para ensiná-los a estudar, pesquisar, e mesmo a questionar?
Isso para mim seria ensinar. Se eles não se permitem a aprender, muitos são aqueles que não se permitem a ensinar. Seja porque não querem, não podem, ou não sabem. Não é só a falta de salas de estudo que é flagrante: a obrigatoriedade e facilidade para formação contínua é outro grande pedregulho no caminho do desenvolvimento.
Este contacto com a tecnologia é incentivado de forma a auxiliar e preparar os estudantes para o futuro, dotando-os de instrumentos, técnicas e conhecimentos necessários para a pesquisa, estudo e trabalho. E aqui é que a porca torce o rabo, porque se há coisa que no nosso país não se investe é em:
a) Formação contínua;
b) Apoio ao estudo.
E não entram aqui para as minhas estatísticas os laboratórios de estudo e formação espalhados por Lisboa, Porto ou Faro; estou a falar das escolas a nível nacional, seja uma C+S em Setúbal, ou uma C+S em Chaves. Para que me serve espetar um Toshiba nas mãos de um jovem de 15 anos, se nunca lhe demonstraram técnicas de pesquisa adequadas a uma biblioteca? Sim, como pode alguém saber como procurar algo nas bibliotecas virtuais (já nem digo nos pântanos dos motores de busca) se a biblioteca escolar – caso exista – está aberta das 14:00 às 17:00, hora em que um ou dois professores com horário incompleto estão disponíveis, sem formadores adequados para prestar auxílio para o estudo e pesquisa?
E a formação contínua dos funcionários? O que dizer de professores que, em 2007, não sabem ainda usar um e-mail? E julgam que são poucos? Os alunos esforçam-se ou não para estudar, é um facto, mas eles não nascem já com mecanismos de estudo e de lógica. Precisam de ser ensinados. Por quem? Professores que não sabem escrever um e-mail? Que não sabem o que é o google? Claro que grande parte dos miúdos/graúdos de hoje copiam trabalhos da Internet: os seus professores não sabem como localizar as “trafulhices”. E quantos professores se disponibilizaram a levar os petizes, com 10/11 anos, a um centro de documentação/sala de estudo/sala de Internet para ensiná-los a estudar, pesquisar, e mesmo a questionar?
Isso para mim seria ensinar. Se eles não se permitem a aprender, muitos são aqueles que não se permitem a ensinar. Seja porque não querem, não podem, ou não sabem. Não é só a falta de salas de estudo que é flagrante: a obrigatoriedade e facilidade para formação contínua é outro grande pedregulho no caminho do desenvolvimento.
O problema de Portugal não é o choque tecnológico principiado pelo governo estar mal preconizado. É o facto de se esquecerem que em Portugal, existe um factor cultural que nenhuma política conseguiu vencer: o desenrascanso. Pois enquanto eu conseguir safar-me sem trabalhar, ou gastar algumas horas a chatear-me com qualquer coisa, enquanto eu conseguir safar-me ao final de cada dia, então está tudo bem.
Eu consegui safar-me a História com um trabalho "sacado" de uma página da Internet. Eu consegui safar-me estes anos todos sem saber mexer no Word. Eu consegui safar-me uma vez mais do trabalho sem o chefe perceber que menti nas habilitações.
A arte do desenrascanso devia ser considerada uma arte portuguesa, com direito a museu e tudo. Vale tudo para nos safarmos. A originalidade da palavra e seu sentido é tão exclusivamente nossa como a palavra "saudade". É melhor que a palavra saudade. É mais complexa. Nós somos ensinados desde pequenos nesta cultura da “saudade”. Mas também somos desde pequeninos encaixados na arte do desenrascanso.
Nas escolas é assim, no trabalho é assim, em casa é assim. É genético. Nenhum inglês, alemão ou japonês sabe se desenrascar tão bem como nós. Estão presos àquelas regras parvas e a conceitos de organização estúpidos, não soltam as amarras do preconcebido para arranjar soluções arrojadas. O choque tecnológico em Portugal é muito mais bonito que nos outros países. Porque cá, quem não sabe, não é penalizado. Desde que se saiba desenrascar…
Eu consegui safar-me a História com um trabalho "sacado" de uma página da Internet. Eu consegui safar-me estes anos todos sem saber mexer no Word. Eu consegui safar-me uma vez mais do trabalho sem o chefe perceber que menti nas habilitações.
A arte do desenrascanso devia ser considerada uma arte portuguesa, com direito a museu e tudo. Vale tudo para nos safarmos. A originalidade da palavra e seu sentido é tão exclusivamente nossa como a palavra "saudade". É melhor que a palavra saudade. É mais complexa. Nós somos ensinados desde pequenos nesta cultura da “saudade”. Mas também somos desde pequeninos encaixados na arte do desenrascanso.
Nas escolas é assim, no trabalho é assim, em casa é assim. É genético. Nenhum inglês, alemão ou japonês sabe se desenrascar tão bem como nós. Estão presos àquelas regras parvas e a conceitos de organização estúpidos, não soltam as amarras do preconcebido para arranjar soluções arrojadas. O choque tecnológico em Portugal é muito mais bonito que nos outros países. Porque cá, quem não sabe, não é penalizado. Desde que se saiba desenrascar…
12 comentários:
Desconhecia a "ignorância" da maioria dos professores em relação às novas técnologias. Assim é fácil um puto cabular...e "brilhar"!
Beijo
Grande post, sim senhora!... Quem fala assim não é gago. Subscrevo na totalidade. E, já agora, o que propões para obviar o mal instalado? Não falo do desenrascanço, está claro (esse já não se desinstala com tanta facilidade), mas se TU fosses o Governo, que medidas concretas propunhas? Isto porque realmente concordo absolutamente em tudo, mas dado estar "descontextualizada" no que toca ao grande choque tecnológico, não consigo adiantar soluções... Vamos fazer destas 7 vidas um espaço-debate! ;)
Muito boa reflexão, parabéns! Acho que tocaste em vários pontos importantes. O nosso problema é estrutural, de mentalidades, e enquanto se apostar em medidas de curto/médio prazo não vamos a lado nenhum.
É como agora as facilidades de crédito para os alunos universitários poderem pagar as propinas... não seria melhor preocuparem-se em garantir-lhes os empregos uma vez terminadas as licenciaturas?
os profs nao sabem mexer nos pc's, mas todos adoram exibir o seu portátil na sala dos professores e na sala dos DT's.
1 puto mexe-se bem, engana os profs e ainda tira uma boa nota. fantástico.
daqui a meia dúzia de anos quero ver isso. vai ser só profs a "enganarem" os putos. eh, eh.
os meus fazem trabalhinhos simples, é o que me safa e a eles também. mas que muitos deles sabem mais que os professores, ai disso nao haja dúvida!
É isso, bxana! É isso!
tu tás lá, apanhas-te o ponto chave lol
Estou de volta com mais um novo e fresco mito urbano.
Aparece por lá a leitura é agradável .
http://novos-mitos-urbanos.blogspot.com
Muito bom Bxana, gostei do post! É bem verdade que adoramos o desenrascanço como atalho e como a maneira mais fácil de fazer as coisas. A única vantagem é que às vezes nos dá flexibilidade e polivalência em muitas situações.
Ahh!! A foto está simplesmente amorosa!
Alô!:)
Bem, se fosse eu, investiria em primeiro lugar na educação de quem educa, ou seja: propunha um prazo, dois ou três anos, para formar o pessoal das escolas - professores, mas também funcionários e sobretudo os conselhos directivos. Claro que isto trazia um problema - é que o governo não consegue resolver a questão dos professores, que nunca sabem se ficarão colocados no ano seguinte. E os nossos governos nunca gostaram de medidas a medio ou longo prazo - como se vê! Nesse caso, delegar estas responsabilidades nas autarquias, para que cada uma gerisse as suas escolas também, penso eu, seria uma boa solução, pois teria um âmbito muito mais centralizado.
Só depois de inserir os docentes nos diversos contextos que se pretendem actualizar - pois ninguém nasce ensinado - só aí eles passam a informação aos alunos, pois já têm mecanismos suficientes para o fazer. Não é preciso haver 25 pc's para 25 alunos. É preciso haver 2 ou 3 professores dotados das ferramentas necessárias: conhecimento (através de formação contínua, convem lembrar os nossos governantes que o mundo evolui) e tecnologia (sendo que aqui incluo pc's, livros, estruturas de estudo, conhecimentos para escolha de carreira, no futuro, alguns pc's, e uma boa mediateca. E já agora, orientação profissional que realmente resulte. Não é a fazer psicotécnicos a cinco dias do fim do nono ano que vamos lá...
Sei que isto é uma utopia, tendo em conta que sei, sei muito bem, que em Portugal é tudo a curto/médio prazo. Mas acho que se não arriscar-mos, nunca petiscaremos!;)
Miaus a todos, obrigada pela participação!!!
E isso não é bom, saber desenrascar-nos!? Eu acho que sim!!A vida é para os espertos,e quem se souber desenrascar bem vai-se safando!! infelizmente é assim!!
A foto esta espectácular!!
O desenrascanço é realmente uma cultura nacional, necessária para nos safarmos de muitos apertos. Infelizmente muita vez descamba para outra faceta cultural, a chico-espertice... a este últimos, era espancá-los com os portáteis e dar-lhes outro tipo de choques que não os tecnológicos. Beijo.
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