Certo dia, estava numa aula de Literatura Clássica, ouvindo o professor (a quem carinhosamente chamávamos de "Cícero", porque o nome me fazia lembrar o porquinho sobrinho do Porky) recitar - pela milionésima vez - algumas das partes mais secantes da Ilíada. Todos odiávamos aquilo (até porque a Ilíada traduzida em português tem tanto interesse como Os Lusíadas traduzidos em havaiano)mas estavamos caladinhos, a tentar não adormecer em cima da caneta.
Até que uma corajosa e louca colega põe o braço no ar, e diz:
"- Desculpe professor, mas não dá. Isto é a coisa mais intragável que eu alguma vez li."
Houve um som de surpresa geral, não porque ela estivesse a dizer uma verdade suprema, mas porque tinha tido coragem de dizer a verdade (suprema). Escusado será dizer que o professor ia tendo uma apoplexia.
Curiosamente, essa aluna chumbou o ano.
A verdade é que não deveriamos ter medo de dizer a verdade. Há livros imortais que deviamos idolatrar, mas que são CHATOS até ao inimaginável. Fazem-nos desejar a morte. Ou a morte de quem os escreveu.
Alguns exemplos:
1. Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco.
Uma seeeeeeeeeeeeeeeca. Argh! Li o bicho todo, mas custou-me a esfolá-lo...ufa!
2. O Processo, de Frank Kafka.
Confesso. Só li umas 15-20 páginas. Depois dessa experiência, comecei a valorizar muito mais a vida.
3. Eurico, O Presbítero, de Alexandre Herculano.
Não há palavras para definir a "intraguiabilidade" desta obra. É simplesmente impossível de ler, sem ter um derrame cerebral, ou ter comportamentos suícidas. Ou estar drogado. Sim, talvez seja uma boa solução.
4. Os Miseráveis, de Victor Hugo.
O Victor Hugo era um génio. Mas não acho justo ele ser conhecido pela sua obra mais secante. Ai transformaram aquilo num musical? Também transformaram O Paciente Inglês num filme, e se acham o filme parado, tentem ler o livro que lhe deu origem...se conseguirem.
Mais achas para a fogueira: Conseguem lembrar-se de algum livro que vos tenha aborrecido de morte?
Miaus!!!