e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de tinão há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.
Eugénio de Andrade
Eugénio de Andrade
Um mês depois da oportunidade perdida, chegou a hora de seres livre deste mundo bxano.
Adeus.
5 comentários:
Novo começo, venha o cavaleiro rebelde que temos uma caminhada para fazer!
:)
Será que há lontras na serra?
Liberdade há de certeza, permitiste-te isso :)
beijinho
Aquilo de fazer frio nas quatro paredes será por não haver tecto?
Vai partir do Mundo Blogosferico?
Sério?
Beijos
Eu? Nááá... isto sou eu a despedir-me de uma outra pessoa...
Miaus!!!
Que venha o nerd :P
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