Barcelona. Esta minha viagem a Barcelona ensinou-me muita coisa. A primeira foi a sensação de andar de avião. É verdade, esta é a terceira vez que viajo a Barcelona, e nunca tinha posto os pés num avião. Peço encarecidamente para ir à janela, para ver o caminho. Dizem-me primeiro que não, porque sou horrível a dar direcções, mas depois lá cedem.
Dia 1
No aeroporto:
Calor. Muito calor. Fazer o check-in e ver a minha mala a ser esmagada pelas passadeiras rolantes foi uma emoção quase tão grande como levantar voo. Não, perdão, fazer o check-in e ser revistada foi MUITO mais emocionante. A descolagem não é assim tão má.
No avião:
Companhia low-cost espanhola. As hospedeiras fazem a demonstração, sob o meu olhar assombrado. Eu não percebo espanhol, mas percebo muito menos inglês falado por espanhóis. Penso “se esta traquitana cai, vou morrer porque não percebi onde se puxa o cordelinho para encher o colete salva-vidas. Ok.”. O B, que me cedeu gentilmente o seu lugar à janela, depois de ameaças várias, diz-me: “não te preocupes, a descolagem é o pior”. Uma hora e quinze depois dobra as folhas que ia pacientemente a ler, e diz-me com o ar mais calmo do mundo “olha, menti-te, a aterragem é muito pior. Relax, ‘tá? ”.
Ok...
Em Barcelona:
Está nublado, frio, e ameaça chover. Fixe.
Em Barcelona:
Perdemo-nos. Fizemos a pé, com malas atrás, uma zona de Barcelona com várias semelhanças com Chelas.
Barcelona, 17:00:
“Olha… uf, uf, uf…a… uf, uf, uf…pousada.”
Barcelona, 21:00:
Las Ramblas, restaurante. Comemos e bebemos quase tudo o que havia.
Barcelona, 03:00:
E não é que há um Irish – ic! – muit’á frente – ic! – mesmo atrás da Sagrada Família?
Dia 2
Barcelona para uns, Port Aventura para outros.
Depois de passar a noite a ressacar, achei – debaixo de um choro compulsivo “Eu queria tanto iiiiiiiiiiir!” – que era melhor não andar no Dragon Khan. Fico em Barcelona com os gudurosos que quer visitar a cidade.
Farmácia
Duckling – a única que sabe falar decentemente espanhol: “Buenos dias, blá blá blá, a minha amiga não se sente bem do estômago, (faz movimentos circulares a imitar a Fátima Lopes com a história dos Bifidus Activos), precisa de algo para a fazer sentir melhor. Ah, precisa também que lhe tirem a tensão arterial (aponta para o antebraço e bate duas vezes na zona das veias)”. Bxana envergonhadíssima ao lado da Duckling: “Pronto, para além de acharem que sou uma ressacada, também acham que sou drogada. Lindo”.
Parq Guell
O sítio ideal para curar uma ressaca. Depois de tempos sem fim a andar, depois de visitar a Casa-Museu Gaudi (é suposto ser um museu de cadeiras?), achámos o famoso miradouro do Parque, o dos banquinhos às cores. Nesse momento, demonstro toda a minha mais alta e nobre sensibilidade artística, e digo “Vou vomitar”. A Maharet e a Duckling passam-me piedosamente um saco da Pans para a mão. Olho cinco minutos para aquilo, e digo “Pessoal, já arrotei. Já podem tirar fotos”.
Ficou a segunda frase do dia.
Opus Gay
Volto para a pousada, para dormir mais um cadito. Duas horas depois, apercebo-me que estão a decorrer as Olimpíadas Gay no exterior da pousada onde estamos. Olimpíadas Gay. Ok. Decido que por muito mal que esteja, vou mas é ter com os meus amigos à zona da Rambla.
Plaça de Catalunya – parte 1
Decido apanhar o metro em Vallcarca, sozinha, rua abaixo, mas tento a minha sorte numa paragem de autocarros, tentando perceber onde aquilo vai dar. Darlings, eu mal percebo espanhol, quanto mais catalão. Fico a olhar para aquilo a ver se algo miraculoso acontece. Nada. Decido ir à minha vida e apanhar o metro. Nisto, apercebo-me de como deveria ser o meu ar de alucinada, quando um senhor, vindo não de bem onde, com um puto pequeno pela mão, me pergunta em inglês “Do you need any help?”. Abro ainda mais os olhos e digo, pausadamente “Yes!”. E calo-me. Ele não desiste: “Where do you want to go?”. Derrota. Esqueci-me. A Duckling foi muito específica na estação de metro onde tinha de sair, mas acabei de ter uma branca. Perante o meu silêncio e a minha cara de fantasma, o tipo insiste “Do you know where you wanna go?”. Sim, o tipo pensa que eu sou uma completa alucinada, a deambular por Barcelona sozinha, sem destino. O puto começa a ficar impaciente, e puxa a manga do pai. Mais tarde a Duckling sugere que ele deveria estar a dizer: “Papá, quem é estar pessoa estranha com quem estás a falar?”. Bem, lá me lembro e consigo dizer-lhe “Sorry, I need to go to Plaça de Catalunya!”. Ele lá me explica, super amável, e consigo ir lá ter. Milagre.
Plaça de Catalunya – parte 2
Mais umas voltinhas, e estamos todos sentados a ver a multidão da Catalunya. Estamos particularmente interessados num pombo que está a perseguir a sua pomba boazona. Quando está lá a chegar, vê na sua direcção um grupo de gente a correr. Foge. À nossa frente passa um grupo de cerca de 10 homens a correr em alta velocidade, com sacos de plástico preto às costas, a gritar e a fugir da polícia. A Duckling quebra o nosso silêncio de estupefacção: “Bem, o pombo lá perdeu o dia…”. Rimos que nem loucos nos minutos seguintes.
Noite – Las Ramblas, ou lá perto, penso eu
Super mal-disposta, a jantar num dos melhores restaurantes de Barcelona. Lá nos aguentamos até às tantas (já com o regressado grupo do Port Aventura), perfazendo um total de 14 portugueses loucos.
Dia 3
Ligeiramente mais bem disposta. Levantamo-nos cedo para ver o que nos falta de Barcelona. A Duckling faz anos hoje, pelo que lá fomos, por portas e travessas arranjar dois bolinhos, um com um 2, outro com um 6. Na hora de lhe fazer a surpresa, enganámo-nos nas posições, e assim se explica o belo vídeo que temos de todos nós a cantar os parabéns a uma jovem, perante um bolo que diz “62”.
Almoço
Super mal disposta. Os ressacados da noite anterior estavam com melhor aspecto que eu. Pareço uma zombie. Lá fazemos as voltas de última hora, e seguimos para a pousada. Hora de apanhar o avião.
Avião de regresso
TAP. Thank God. Menos 50% de probabilidades de vomitar. Saímos de uma Barcelona mais solarenga. Chegamos a uma Lisboa onde está quase a chover. Fixe.
Dia 4
Finalmente, o meu pai arrasta-me ao médico, já no Montijo.
Era a chuva, era a neve? Não, era mesmo uma gastrite.
E cá estou eu, em casa, amassada em pozinhos para o estômago. Fixe.
(Mesmo assim, Barcelona é mesmo gira!)