quarta-feira, 8 de abril de 2009

Neve, neve, neve!

Para quem só tinha visto neve uma vez na vida, e num dia soalheiro, sem direito a nevão, ver pela primeira vez os Pirinéus cheios de neve é quase um sonho. Tirei mil e quinhentas fotografias, pendurada na janela, com os meus amigos a reclamar do frio.

Depois de quase 14 horas de viagem, chegámos a Andorra. Mais um bocadito, atravessamos o minúsculo principado, e chegamos à fronteira, Pas de la Casa. O nosso prédio ficava na fronteira; saíndo pelas traseiras, estávamos em França, saíndo pela porta principal, estávamos em Andorra.

Primeira impressão: aterradora. Entrámos num supermercado para abastecermos a dispensa, e estava a passar... André Sardet. Blergh! Cedo nos apercebemos que andámos 14 horas na estrada para estar num país franco-português. Nunca sabíamos que língua falar. No fim, falávamos português, se pegasse, fixe, se não, lá tentávamos o castelhano, porque inglês, nem à força da chapada, e o meu francês é tão bom quanto os meus crepes caseiros (um dia conto aqui como pegar fogo à casa com uma só tentativa de fazer crepe).


Segunda impressão: não me lembro.
Acho que só fomos buscar os esquis de manhã. Nunca tinha posto as patinhas em coisas daquelas... andar com botas de esqui equivale a fazer de duplo do robocop. E depois temos de apertar aquilo como se não houvesse amanhã.

O gajo que nos alugou o material de esqui, adivinhem... ‘tuga! Um ‘tuga bem porreiro, não me lembro o nome dele porque sou uma criatura vergonhosa, mas ele nunca se esqueceu do meu.

Primeira aula de esqui: pânico. Os esquis são duas peças aterradoras que escorregam na neve que nem manteiga. Aprendi numa pista quase plana, não cai uma única vez durante toda a manhã. À tarde armei-me em carapau de corrida, do género “querem ver???”, e fiz cerca de 300 metros de Sku. Sim, aquela modalidade em que as nossas nádegas cedem o lugar às pranchas.

Não tão grave quanto o quinto dia, em que já a fazer pistas a sério, fiz, vamos lá, 1 quilómetro de sku.

E a primeira vez que andei nas cadeirinhas? Como SAIR daquelas coisas? A primeira vez que experimentei, saí disparada das cadeiras e dei umas cinco cambalhotas na neve, até deixando esquis, batons, e dignidade pelo caminho. O mais grave é que a queda foi tão rápida, que ninguém a viu. O Profeta pergunta ao Finkut “ – Viste a Bxana?”, ele responde “ – Não!”, e pergunta ao Manel “Viste a Bxana?”, levando como resposta um surpreendido “ – Não!”. Olharam para a descida abrupta e viram, lá em baixo, uma mancha alaranjada estendida no chão. “ – Olha a Bxana!!!”


No segundo dia à tarde, nevou. Foi lindo. Lindo. É mesmo verdade, os flocos de neve são todos diferentes, pequenos cristais de várias formas, se olharmos com atenção nos 5 segundos que precedem o seu derretimento. Foi o primeiro dia que fiz uma pista a sério - uma pista azul. As pistas de esqui / snowboard estão divididas em quatro cores: verde (principiantes), azul ("normal" - com bastante inclinação), vermelhas (já bastante difíceis) e pretas (para prós - são pistas a pique, e não estou a hiperbolizar!). Às vezes há vermelhas mais fáceis que certas azuis, dependendo da zona em que se começa a pista, do espaço para curvas e da inclinação. E claro, do jeito para a coisa!!!


A casa - um T0, com uma cozinha a dividir o espaço entre as duas meninas e os quatro meninos desprovidos de juízo. E uma única casa de banho. Sem janela. É indiscritível o quanto um homem pode ser tóxico num wc. Um exército de texugos não conseguia ter o mesmo efeito do que enfiar um gajo numa casa de banho pequena sem janela, durante 5 minutos. Eu e a Bunny tentámos instituir a regra: "- Meninos só vão ao wc do restaurante, mas sem sucesso". Aprendemos a passar longos períodos na varanda, a meditar sobre o hinduísmo e sobre o consumo excessivo de Pringles nos States. Mais vale estar na varanda a apanhar um nevão, do que a menos de cinco metros de um depósito de resíduos nucleares.



Sono. Como felina que sou, consigo adormecer em cinco segundos, e acordar quinze horas depois. O pessoal ia para a night, eu ficava no apartamento numa de anti-social, a ressonar. Eles chegavam, faziam 30 por uma linha, e eu nunca acordei. Abençoada Bxana.



Franceses ao sol: Não os vejo. Tenho francesomiopia. Estavam dois franceses e uma portuguesa num solarengo dia de Março, numa pista azul. A portuguesa estava na dela, muito concentrada em manter o equilíbrio nas curvas ("1, 2, vira, trava, segue, 1, 2, vira, trava, segue...") quando olha em frente, vê uma mulher a menos de sete palmos, e grita "- Ahhhhhhhhhhhh!". A francesa vê-me, e responde na mesma linguagem universal: " - Ahhhhhhhhhhhhh!". Houve um choque de titãs, e fomos a rebolar pela neve abaixo. Perdemos esquis, batons, óculos, barrete... o marido dela veio a rastejar atrás de nós, e estando eu estandida na neve, de cabeça para baixo, virada para a descida, pergunta-me "Vous êtes bien?" , ou qualquer coisa assim, ao que respondi um muito convicente " - Oui... au... ai...". Por fim, lá me vieram socorrer. Conheci a sensação de ter magotes de gelo na lingerie.



Pronto, que isto já vai longo... foi bom, foi porreiro, foi o máximo! ;)






7 comentários:

Gata Verde disse...

E fotos a esquiar???
Eu também sou amante da montanha nevada,mas afastada dos esquis!!
;)

Beijocas e Feliz Páscoa!

LopesCaBlog disse...

Grande foto :)

Rafeiro Perfumado disse...

Não fosse pela gata ali de cima, ia para a neve todos os anos. Sim, porque há quem até tenha jeito para aquilo! Mas é fantástico, não é, parece que é um mundo completamente diferente. Beijo!

caditonuno disse...

depois das quedas, das cambalhotas, da vrgonha perdida e da ignorância inocente, ainda deu pra te divertires. fantástico!!!

Mel disse...

bem o que me ri com o relato
o melhor de tudo é que te divertiste, dormiste, tiveste experiências novas, dormiste, apanhaste ar puro, e dormiste :)
hehehe

LopesCaBlog disse...

Boa Páscoa ;)

Casemiro dos Plásticos disse...

Tenho que experimentar também :9
beijo e boa semana.

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